Moluscos
e Saúde Pública no Brasil
Como expresso em anteriores oportunidades
pelos mais diversos autores, desde tempos ancestrais muitas e variadas vem
sendo as justificativas trazidas à tona para tentar explicar a óptica
e o porquê do conhecimento e estudo aprofundado desses seres maravilhosos
e impressionantemente diversificados que são os Moluscos, sendo que
entre as tantas abordadas particularmente destaca uma pela sua imediata e
sensível importância para a população, a denominada
Malacologia Médica, ativamente integrada aos campos atingidos pelo
setor da Saúde Pública, tanto a nível Zootecnista Veterinário
como Médico-Sanitário propriamente dito (Zoonoses), na sua condição
de vetores ou transmissores de doenças de tipo parasítico ao
homem.
Zooantroponose é um outro termo dado
às doenças que podem ser passadas dos animais para o homem.
Envolvidos na transmissão de um conjunto
de doenças parasitárias com prevalência significativa
em países da América Latina e África, principalmente,
em determinadas situações a participação dos Moluscos
é indispensável para que a transmissão da doença
se instale em uma localidade, razão pela qual ganham importância
destacada, fundamentalmente, por se tratar de problemas de saúde pública
situados na categoria das chamadas “doenças negligenciadas”,
ainda diretamente relacionadas ao denominado “Saneamento Ambiental Inadequado”.
DOENÇAS
PARASÍTICAS TRANSMITIDAS POR MOLUSCOS NO BRASIL
Uma ampla revisão geral introdutória,
baseada na substanciosa literatura especializada disponível sobre o
tema, nos revela de imediato que no território geográfico brasileiro
atualmente são contabilizadas pelo menos três formas de doenças
do tipo “Verminoses ou Parasitoses” transmitidas por moluscos
vetores diversos, terrestres e límnicos/de águas doces, podendo
estas serem divididas, pela sua vez e a grandes rasgos, em dois grandes grupos
principais, conforme o espaço e ambientes onde estas se desenvolvem:

Fig. 1- Fonte: Passos 1998

Fig. 2 - Foto Autor: I. Agudo
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TRANSMITIDAS POR MOLUSCOS
LÍMNICOS
1.- ESQUISTOSSOMOSE, XISTOSE OU BARRIGA D’ÁGUA
Produzida pelo verme Schistossoma mansoni
Sambon, 1907 (PLATYHELMINTHES: TREMATODA) (Fig. 1),
e transmitida em forma natural no Brasil por 3 espécies de caramujos
de água doce da família Planorbidae - gênero Biomphalaria
(Fig. 2), sendo a doença parasítica (verminose)
melhor estudada no território nacional, pela sua condição
de “pandemia” com alto índice de interesse sanitário
e/ou epidemiológico humano.
Também conhecida como “Doença
do Caramujo”, é uma infecciosa parasitária típica
das Américas, Ásia e África, um grave problema de saúde
pública global que se espalhou rapidamente, sendo que o Brasil, atualmente,
pode ser considerado o maior foco endêmico de Esquistossomose do mundo,
conforme especialistas.
Doença exótica (*),
chegou ao Brasil trazida pela colônia Portuguesa junto com os escravos
africanos (**), acreditando-se iniciou a sua expansão
interna em tempos modernos após o ano de 1920, partindo da sua área
geográfica endêmica inicial, abrangendo os Estados nordestinos
do Ceará e Alagoas. Acredita-se que hoje sejam cerca de 12 milhões
os brasileiros infectados ou portadores desta verminose, encontrados, principalmente,
nos Estados do Nordeste e em Minas Gerais. Os Estados do Brasil onde a “Esquistossomose”
se apresenta com maior freqüência são Bahia, Minas Gerais,
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe e Espírito
Santo.
(*)
Ovos do helminto foram encontrados inclusos em múmias chinesas e do
Egito de mais de dois mil anos ...
(**)
Ao mesmo tempo em que os escravos eram enviados às mais diversas regiões
do país, os moluscos transmissores também eram encontrados em
quase todas as regiões onde nunca tinha havido saneamento básico,
sendo desta forma, desde a época da colonização, que
as condições para a disseminação da doença
sempre foram favoráveis ...
Fig. 4 - Foto autor: I. Agudo |
2.- FASCIOLOSE OU FASCIOLÍASE HEPÁTICA
Produzida pelo verme Fasciola hepatica
(Linnaeus, 1758) (PLATYHELMINTHES: TREMATODA) (Fig. 3),
e transmitida em forma natural no Brasil por 2 espécies de caramujos
de água doce da família Lymnaeidae (gênero Lymnaea)
(Fig. 4), sendo que dita verminose apresenta estudos
no Brasil orientados mais para o nível Veterinário específico
em gado Bovino e Ovino, e pouco/baixo interesse sanitário e/ou epidemiológico
humano.
Fig. 3 - Fonte: Carvalho et al 2005 |
De ampla distribuição geográfica
(cosmopolita), ocorre principalmente em regiões de clima tropical e
subtropical do mundo, possuindo grande interesse econômico, sendo considerada
importante na Medicina Veterinária por acometer criações
de Bovinos, Ovinos, Caprinos, Suínos, Bubalinos e vários mamíferos
silvestres, assim como na Saúde Pública por, ocasionalmente,
infectar o homem. Nas Américas é encontradas principalmente
na Argentina, Uruguai, Chile, Venezuela, Cuba, México e Porto Rico.
Já no Brasil é encontrada nas regiões de maiores criações
de gado, como Rio Grande do Sul e Mato Grosso; em geral, com ocorrência
nos Estados do Sul e Sudeste.
TRANSMITIDAS POR MOLUSCOS
TERRESTRES
1- ANGIOSTRONGILÍASE ABDOMINAL
Produzida pelo verme Angiostrongylus
(Parastrongylus) costaricensis Morera & Céspedes,
1971 (ASCHELMINTHES: NEMATODA) (Fig. 5), e transmitida
naturalmente por diversas espécies de caracóis e lesmas (nativos
e exóticos), comuns na sua maioria próximos do homem em canteiros,
hortas, lavouras, quintais e jardins, sendo uma doença considerada
“emergente”, com escassos estudos efetivamente realizados até
agora no Brasil, e ainda com a veiculação popular sem fundamentação
científica na mídia (de acordo a especialistas atuantes na área),
do caracol exótico africano invasor Achatina (Lisoachatina)
fulica Bowdich, 1822 (Fig. 6) como “portador
e ativo transmissor” do verme causador da citada doença, situação
que vem gerando além desnecessárias situações
de pânico entre a população, sendo que o grupo malacológico
que mais ganha atenção neste sentido (principalmente na região
Sul do Brasil) é o pertencente às popularmente denominadas “lesmas-lixa”,
moluscos terrestres desprovidos de concha representantes da família
Veronicellidae (Fig. 7), assim como certas “semi-lesmas”
exóticas da família Limacidae.
Fig. 5 - Fonte: Carvalho et al |
Fig. 6 - Foto Autor: I. Agudo |
Fig. 7 - Foto Autor: I. Agudo |
Doença parasitária típica
e nativa das Américas, os seus hospedeiros definitivos na natureza
são roedores, incluindo as 3 espécies ligadas ao homem –
a Ratazana ou Rato-de-esgoto, Rattus norvegicus (Berkenhout, 1769),
o Rato ou Rato-de-telhado, Rattus rattus (Linneus, 1758), e o Camundongo,
Mus musculus (Linneus, 1758), com populações enormes
em muitos ambientes humanos, onde são vetores diretos e indiretos de
outras doenças, sendo que roedores silvestres também são
hospedeiros definitivos e adaptados ao nematódeo em questão.
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Referências
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