O
HOMEM E AS CONCHAS
por Paulo Luiz Giannocco
O homem interage com a natureza de diversas
formas e é interessante, senão surpreendente a relação
que manteve e mantém com as conchas. Isto remonta a tempos muitos
distantes na África em que as conchas simbolizavam a fertilidade
da terra, dos animais e em particular do homem. Nos rituais da tribo N’Domo
um ancião veste máscara de conchas para contar aos jovens
o nascimento de seus ancestrais. Enfeitar-se com conchas em cerimônias
significa estar pronto ao casamento e procriar.
Utilização
de conchas para ornamentação
|
Esta crença acompanhou o deslocamento
do homem por todos os lugares. Junto a antigas múmias descobertas
nos Andes do sul e América Central foram encontradas conchas cujo
significado, supõe-se, seja o veículo para uma boa passagem
para a “nova vida”. Povos meso-americanos contemporâneos
dos Astecas enterravam seus corpos com turbantes costurados com conchas
ou com máscaras escavadas de grandes conchas.
As deusas da fertilidade Hator, egípcia; e Afrodite, grega têm
suas origens relacionadas a conchas. No Japão introduziam-se conchas
na boca e olhos dos mortos numa quantidade tal que mantivesse na “nova
vida”o mesmo status daquela que deixara. Em algumas províncias,
mulheres no momento do parto seguravam conchas nas mãos.
Esta crença que as conchas alcançaram foi fundamental para
que fossem aceitas como objeto de crédito – dinheiro –
nas relações comerciais entre pessoas em partes da África,
Ásia e Oceania. Na expansão colonialista do século
XV os dominadores europeus se surpreenderam com o intenso comércio
lastreado com conchas; e, após desfrutarem desta situação,
impuseram seu sistema de moeda cunhadas em discos metálicos sob
seu total controle. Os portugueses também compraram escravos com
conchas brasileiras.
Tuvalu, país da Oceania, quando obteve sua independência em
1978, inseriu 8 conchas no seu brasão nacional, representando a
fertilidade de suas ilhas. Outros 4 países têm conchas nos
seus brasões, mas por outros motivos.
Em duas grandes religiões as conchas se fazem presentes; pecten
jacobaeus foi assumida como símbolo cristão assumido por
diversos cavaleiros que participaram da II Cruzada que tomou Santiago de
Compostela e Jerusalém da posse dos mouros. Esta concha está
no brasão de São Pedro e de outros papas devotos. A turbinella
pyrum é a concha sagrada do budismo; a forma normal destra junta
com a rara sinistra (desenvolvimento anti horário das espiras) simbolizam
o equilíbrio das forças opostas da natureza – yin e
yang. Strombus gigas está nos brasões nacionais das Bahamas
e Turks and Caicos, pois este molusco além de estar na dieta alimentar
destes povos é industrializado e exportado.

Artefato
esculpido a partir de um Conus
|
Há antropólogos que sugerem
que o alto valor nutricional dos moluscos seja um importante fator que
contribuiu para o desenvolvimento cerebral de hominídeos tornando-os
bem mais evoluídos e dominadores em relação a qualquer
outra espécie.
Numa caverna no Chile, outrora habitada
por homem primitivo foram encontradas conchas; e o mar distava 200 Km do
local. Imaginamos este peculiar colecionador observando curioso estas conchas
em suas mãos, suas formas e suas cores; sem dúvida uma primitiva
manifestação de arte; e isto o diferenciou dos demais.
|